Cabelo black power: um símbolo de identidade e resistência

Cabelo Black Power: um símbolo de identidade e resistência — Foto: Eduardo Gorghetto/Unsplash

Muito mais que estilo e beleza, o cabelo Black Power carrega em seus fios volumosos e formato arredondado uma vasta história ligada ao movimento negro. Ele é símbolo de identidade e resistência, que ganhou força principalmente a partir da década de 1960.

Para entender mais a fundo sua importância, o gshow conversou com o filósofo, professor e estudioso da cultura africana Renato Noguera e também com a escritora Kiusam de Oliveira, conhecida internacionalmente por suas obras com foco na educação antirracista.

Origem do Black Power

Como reflexo dos movimentos negros nos Estados Unidos, entre os anos de 1960 e 1970, houve uma crescente busca na valorização da beleza negra. Nesse período, o cabelo afro ganhou papel central na estética dos negros americanos.

“O movimento Black Power é um movimento político-cultural negro, e o cabelo sem nenhuma modificação, sem corte, ficou em evidência a partir desse momento. Muitos integrantes do Panteras Negras, grupo que surgiu com a pauta de combate à violência policial contra negros e defendia o lema ‘Black Power’ (tradução livre Poder Preto), traziam esse aspecto mais estético”, contextualiza Noguera.

Símbolo de identidade e resistência

“O cabelo Black Power é uma resistência à estética do racismo estrutural. Numa sociedade racista, um dos aspectos mais presentes é a recusa da elegibilidade das pessoas negras serem bonitas. Isso passa pelo cabelo, de tal forma que os cabelos crespos eram colocados como ruins. A poetisa Elisa Lucinda até coloca em um dos seus espetáculos: ‘É um cabelo que está preso ou armado, que nem bandido’”, diz o filósofo.

“No caso dos homens, era muito frequente ter os cabelos cortados. Então, o Black Power vai ser uma alforria estética. Isso é fundamental, porque nossa identificação passa pelo cabelo. É uma construção simbólica que, no caso dos negros, sempre foi visto de forma negativa”, completa Noguera.

“É herança do povo africano, o legado ancestral que nos foi deixado e precisa ser valorizado”, destaca a escritora Kiusam de Oliveira.

A escritora Kiusam de Oliveira — Foto: Reprodução Instagram

Transição capilar

Adeus, química! A transição capilar, que resgata a textura natural dos cabelos, tem crescido muito nos últimos anos. Muitas mulheres passam pela transformação a partir da própria necessidade e por influência do movimento negro e de influenciadoras digitais.

Esse movimento de libertação torna o que era tido como feio em belo, construindo um processo de ressignificação da beleza negra na sociedade brasileira.

“As redes são circuitos importantes que ajudam a fortalecer o movimento. Também tem a questão do espelhamento, da identificação. As redes são amplificadores de comportamento, por isso é muito importantes ter mulheres que contem suas histórias, porque podem criar um jogo de espelhos”, diz Noguera.

“As pessoas que estão a fazer o percurso podem se inspirar e fazer o seu próprio, reconhecendo como um percurso possível. Isso fortalece a crença, fortalece a ideia de que é possível”.

Cabelo Black Power: um símbolo de identidade e resistência — Foto: Rafael Sanfilippo/Unsplash

Créditos: Por Marcelle Abreu, gshow